Independente de não compartilhamento da mesma fé do autor.
Perdoar é sinal de atraso, artigo de Américo Canhoto
Dr. Américo Canhoto
[EcoDebate] Nossas limitações de consciência nos conduzem a
interpretações falsas ás vezes, e, sempre relativas. Á primeira vista
o título do artigo pode nos chocar e até ofender; mas, é a pura
realidade conforme veremos.
A rigor podemos dizer que maioria de nós está numa condição infra
humana; pois, ainda está sob o comando dos impulsos; guiados pela
variante da lei de ação e reação; estilo olho por olho dente por
dente; daí que para nós, as pessoas que já conseguem perdoar de forma
incondicional nos parecem anjos ou seres muito evoluídos; quando
apenas se tornaram seres humanos de fato.
Na nossa precária condição somos atraídos por expressões conceituais
que, embora verdadeiras; apenas espelham uma fase primária da nossa
evolução.
Coisas do tipo: Perdoar é para os fortes. Os fracos agridem / Perdoar
é para os corajosos. Os covardes retaliam.
Perdoar não é para qualquer um. É uma condição humana. Candidatos a
seres humanos ainda não conseguem perdoar.
Perdoar é uma atitude inteligente. Perdoar é para pessoas já dotadas
de raciocínio crítico. Quem pouco pensa, pouca capacidade tem de
perdoar. A capacidade de perdoar é proporcional à capacidade de
pensar.
Perdoar é uma forma de sentir. A emoção de perdoar torna-se o
sentimento do perdão; desde que seja conduzida pela razão. Quem
experimenta o prazer de perdoar, nunca mais deseja a passageira emoção
da vingança.
Pensar perdão e sentir perdão de forma incondicional é humanizar-se.
Progredir sempre, é lei.
Da simplicidade e da ignorância do animal que nos devolve o amor que
lhe damos sem interpretações, nós seguimos em direção à criatividade
humana; e a sinalização do caminho já trilhado no aprendizado do
perdão; pode nos indicar com segurança quanto nos falta para
atingirmos o nosso destino na humanização; quem ainda não sabe perdoar
é um arremedo de ser humano.
Princípios ético morais a serem desenvolvidos para saber dar e receber
perdão e amor.
Nosso padrão de qualidade íntima vai ditar como podemos um dia receber
amor da melhor qualidade.
Há qualidade no amor? – Pois, nesta vida relativa, há. Então, é
preciso que nos preparemos para receber amor – ele, é como um líquido
precioso a ser distribuído para quem desejamos amar; daí, não deve ser
guardado num vaso sujo.
Simplicidade ou pobreza em espírito. Aquele que não exige nada
complicado se satisfaz com tudo o que possa receber; e se felicita com
o que o outro tiver para lhe oferecer sem cobranças nem exigências
descabidas. O simples se veste apenas com as qualidades que tem, e em
virtude disso, raramente decepciona.
Humildade. Aquele que busca sempre servir antes de ser servido; ajudar
ao invés de ser ajudado; não espera estar situado em primeiro plano no
coração das pessoas; e, quando preterido não se ofende, não se magoa,
não odeia.
A benevolência. O aprendizado da afabilidade e da doçura que compõe a
benevolência, também são manifestações do preparo para dar e para
receber compreensão, cuidados e amor; desde que não sejam apenas de
aparência.
A paciência. Devemos aprender a sermos pacientes com tudo e com todos
os que a natureza põe em nosso caminho, para que eles tenham tempo de
nos compreender e para que possam aprender a nos amar.
A misericórdia. Esquecer e perdoar as ofensas constitui valioso
recurso para que sejamos amados, e, para que as pessoas não temam
aproximar-se de nós. Dentre nossos possíveis inimigos de hoje, estarão
num futuro próximo pessoas que nos amarão com fervor.
A dignidade. Não basta sermos considerados dignos. Não basta sermos
considerados bons. É preciso que o sejamos de fato, ou até mais que
isso. É preciso que extrapolemos nossas obrigações e transformemos a
dignidade na mais pura caridade.
A perseverança. Para que amemos e sejamos amados não existe tempo nem
hora. Para quem já sabe o que quer e, se capacita para dar e receber,
tudo acontece de forma natural.
A indulgência. Quem deseja capacitar-se ao amor deve fazer da
indulgência um dever; pois, não há quem dela não precise para si
mesmo. Todos necessitamos da indulgência uns dos outros, falhos e
devedores que somos. Não julgueis com severidade senão as próprias
ações.
Renúncia. Não está capacitado a dar e receber amor aquele que ainda
não aprendeu a renunciar aos interesses do próprio orgulho e egoísmo
em favor daqueles que pretende amar e dos quais deseja receber amor.
O amor é o produto final do aprendizado do esquecimento das ofensas e
do perdão incondicional.
Quando nos detemos um pouco para pensar sobre o amor é natural que nos
sintamos muito longe dele; porém, não vale desanimar nem justificar ou
inventar desculpas para nossas atitudes de desamor; é preciso sim
buscar praticá-lo em todas as pequenas ocorrências do dia a dia, sem
descanso.
Na verdade, mesmo que o estudemos e falemos sobre ele o tempo todo,
não o compreenderemos tão cedo.
Vivemos conceitos de amor doentios que nos foram repassados pela
cultura; e por pessoas que ignoravam o que seja o amor; no entanto,
achavam que sabiam, tal e qual nós no presente.
Estamos situados no que podemos chamar de a Era da Razão, nossa
racionalidade atingiu razoável capacidade. Para usá-la de forma
correta cabe nos ajudarmos uns aos outros a fim de que possamos
realmente entender e praticar o amor em todos os campos do saber:
intelectual, emocional, instintivo, ético/moral, religioso,
científico. Agregando, integrando, conectando.
Não ofender-se com nada é tornar-se supra/humano.
Para os que sentiram ofendidos nas suas convicções com o título do
artigo; oferecemos um outro foco para exercício de reflexão: A
criatura que ainda precisa perdoar; é muito atrasada; pois, ainda se
ofende – ou seja, ainda é portadora de incontáveis defeitos de caráter
– causa única do sentir-se ofendido.
Respondendo á colocação do artigo anterior a respeito do perdão
Divino: Deus não nos perdoa; caso contrário não seria Ele; mas um
simples humanóide que nós criamos á nossa imagem e semelhança. A Fonte
Criadora não se ofende conosco; daí vai perdoar o que?
Quem não se ofende não precisa perdoar.
Quando nós já nos encontrarmos nessa fase; a de não nos ofendermos com
nada; estaremos caminhando em direção á fase Angelical ou de Avatar:
Trabalhar pelo bem estar e pela felicidade dos que nos ofenderam num
remoto passado é Divino. É o principiar do puro amor.
Material para reflexão: Será que é preciso chegar na fase de não
sentir-se ofendido para começar a perdoar e a trabalhar em favor dos
que nos ofenderam, magoaram e causaram mal? – Ou dá para adiantar o
expediente e acelerar o processo?
– "Quem sabe faz a hora não espera acontecer"?
Obs. Amanhã daremos um breve e simples roteiro para começar a treinar perdão.
Nota: o presente texto é uma continuação dos artigos "Aprender a
perdoar é um santo remédio " e "Requisitos para esquecer as ofensas".
Américo Canhoto: Clínico Geral, médico de famílias há 30 anos.
Pesquisador de saúde holística. Uso a Homeopatia e os florais de Bach.
Escritor de assuntos temáticos: saúde – educação – espiritualidade.
Palestrante e condutor de workshops. Coordenador do grupo ecumênico
"Mãos estendidas" de SBC. Projeto voltado para o atendimento de
pessoas vítimas do estresse crônico portadoras de ansiedade e medo que
conduz a: depressão, angústia crônica e pânico.
* Colaboração de Américo Canhoto para o EcoDebate, 16/06/2010
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